Anatomia Veterinária: Sistema Respiratório

Anatomia Comparada do Sistema Respiratório em Animais Domésticos: Guia Completo

Um guia denso e didático de anatomia veterinária: organização das vias aéreas, conchas e meatos nasais, papila e ducto incisivo com órgão vômeronasal, seios paranasais por espécie, bolsa gutural, histologia da traqueia, carina traqueal, lobação pulmonar comparada, hematose, frequências respiratórias e implicações clínicas.

1) Organização geral e vias respiratórias verdadeiras

O sistema respiratório divide-se em vias aéreas craniais (nariz, cavidade nasal, seios paranasais, nasofaringe e laringe), vias aéreas caudais (traqueia, brônquios, bronquíolos não-respiratórios e bronquíolos respiratórios) e pulmões (direito e esquerdo).

Essencial: apenas os alvéolos respiratórios realizam trocas gasosas; por isso, são as vias respiratórias verdadeiras.

2) Estruturas externas e planos nasais

EspécieTipo de planoParticularidades
EquinoPlano nasalNarinas amplas e muito móveis; divertículo nasal que amplia a captação de ar.
BovinoPlano nasolabialFusão nariz–lábio superior; superfície úmida e rugosa, pouca mobilidade fina.
Ovinos/CaprinosPlano nasal simplesEstrutura lisa e menos desenvolvida que nos bovinos.
SuínoPlano rostralSustentado pelo osso rostral; apto a “fossar”.
Cão e GatoPlano nasalNarinas em “vírgula”, alta mobilidade e sensibilidade olfativa.

Coanas (aberturas nasais posteriores): nos equinos existem duas coanas (direita e esquerda), separadas até a nasofaringe; nas demais espécies domésticas ocorre uma única coana, resultante da fusão das cavidades nasais antes de se abrirem na nasofaringe.

3) Comunicação oronasal e órgão vômeronasal

A papila incisiva localiza-se no palato duro (linha média), abrigando os óstios do ducto (canal) incisivo, que conecta a cavidade oral à cavidade nasal e ao órgão vômeronasal (de Jacobson), especializado em percepção de feromônios e quimiorrecepção com impacto comportamental/reprodutivo.

Exceção notável: equinos não possuem papila incisiva; o órgão vômeronasal abre-se diretamente na cavidade nasal.

4) Cavidade nasal: conchas e meatos

A cavidade nasal é bipartida pelo septo nasal e contém as conchas (cornetos):

  • Concha dorsal e concha ventral — função respiratória (aquecimento, umidificação e filtragem do ar).
  • Conchas etmoidais — função olfatória predominante, com contribuição respiratória.

Entre conchas e septo formam-se os meatos:

  • Meato dorsal: direciona ar para a mucosa olfatória.
  • Meato médio: comunica-se com os seios paranasais.
  • Meato ventral: principal via de passagem do ar inspirado até a nasofaringe.
  • Meato comum: corredor longitudinal junto ao septo, interligando os demais.

5) Seios paranasais por espécie (quantidade e distribuição)

EspécieSeios presentesObservações
Equinos 6 por lado: frontal; maxilar rostral e caudal; conchal dorsal; conchal ventral; esfenopalatino. Seios maxilares subdivididos e óstios estreitos → predisposição a sinusites crônicas.
Bovinos Frontais; maxilares; palatinos; esfenoidais; lacrimais. Seio frontal invade os chifres em adultos (relevante em descorna).
Ovinos/Caprinos Semelhantes aos bovinos, porém menos volumosos. Volumes reduzidos em comparação aos bovinos.
Suínos Frontais; maxilares; conchais; esfenoidais. Menos desenvolvidos que em equinos e ruminantes.
Cães Frontais (subdivididos); maxilares; esfenoidais. Subdivisões frontais variáveis entre raças.
Gatos Frontais; maxilares; esfenopalatinos. Volume global menor que em cães.

6) Bolsa gutural (equinos) e nervos relacionados

A bolsa gutural é uma dilatação bilateral da tuba auditiva, dividida em compartimentos medial e lateral, exclusiva dos equinos. Entre as funções propostas estão a ressonância vocal, a termorregulação do sangue destinado ao encéfalo e o equilíbrio de pressão entre nasofaringe e ouvido médio.

Relações neurovasculares críticas: artérias carótidas interna/externa e os nervos cranianos IX (glossofaríngeo), X (vago), XI (acessório) e XII (hipoglosso).

  • IX – Glossofaríngeo: sensibilidade da faringe e paladar do terço caudal da língua.
  • X – Vago: motricidade de faringe/laringe e fibras parassimpáticas para tórax e abdome.
  • XI – Acessório: motricidade de músculos cervicais.
  • XII – Hipoglosso: motricidade intrínseca/extrínseca da língua.
Clínica: micoses/empíemas de bolsa gutural podem causar disfagia, alterações vocais, paresia lingual ou hemorragias graves por acometimento neurovascular.

7) Traqueia, músculo traqueal e carina

Histologia essencial

  • Adventícia (serosa): conjuntivo externo.
  • Cartilagens hialinas em “C”: conferem rigidez e permeabilidade luminal.
  • Tela submucosa: glândulas mucosas.
  • Túnica mucosa: epitélio pseudoestratificado ciliado com células caliciformes (depuração mucociliar).
  • Músculo traqueal: fecha os anéis cartilaginosos incompletos.

Posição do músculo traqueal por espécie

EspéciePosição
EquinoInterno (intratraqueal)
BovinosInterno
Ovinos/CaprinosInterno
SuínoInterno
CãoExterno (particularidade entre domésticos)
GatoInterno

Carina traqueal

A traqueia bifurca-se entre o 4º e 6º espaço intercostal, originando os brônquios principais. A crista cartilaginosa que marca essa bifurcação é a carina traqueal, altamente sensível e responsável por reflexo de tosse quando estimulada. Em ruminantes e suínos, antes da carina surge o brônquio traqueal, que supre o lobo cranial direito; em equinos e carnívoros, esse brônquio está ausente.

8) Pulmões e lobação comparada

Espécie Pulmão direito Pulmão esquerdo Observações
Equino Lobo cranial; lobo caudal Lobo cranial (porções cranial e caudal); lobo caudal Sem lobo médio; superfície externa pouco lobulada
Bovinos Lobo cranial (porções cranial/caudal); lobo médio; lobo caudal; lobo acessório Lobo cranial (porções cranial/caudal); lobo caudal Lobulação profunda e firme; brônquio traqueal → lobo cranial direito
Ovinos/Caprinos Semelhante aos bovinos Semelhante aos bovinos Menor rigidez lobar que bovinos
Suínos Lobo cranial (porções cranial/caudal); lobo médio; lobo caudal; lobo acessório Lobo cranial (porções cranial/caudal); lobo caudal Muito lobulados; brônquio traqueal presente
Cão Lobo cranial; lobo médio; lobo caudal; lobo acessório Lobo cranial (porções cranial/caudal); lobo caudal Lobos definidos; sem brônquio traqueal
Gato Igual ao cão Igual ao cão Lobos mais compactos; sem brônquio traqueal

9) Hematose

A hematose ocorre nos alvéolos respiratórios, onde o oxigênio difunde-se através da camada de surfactante, do pneumócito tipo I, da lâmina basal, do endotélio capilar e do plasma até alcançar a hemácia; o CO2 percorre o trajeto inverso.

10) Frequência respiratória

EspécieMovimentos por minuto (repouso)
Bovinos10–30
Equinos10–16
Suínos8–18
Ovinos/Caprinos12–20
Cães10–30
Gatos20–30

Valores médios em repouso; variam com idade, temperatura, estresse, condição clínica e ambiente.

11) Implicações clínicas

  • Equinos: divertículo nasal pode dificultar sondagens; seios maxilares subdivididos explicam sinusites recidivantes; doenças de bolsa gutural podem comprometer IX, X, XI, XII e carótidas, causando disfagia, disfonia, paresia lingual e hemorragias.
  • Bovinos: seio frontal comunica-se com chifres → risco de sinusite pós-descorna; brônquio traqueal favorece pneumonias no lobo cranial direito.
  • Ovinos/Caprinos: padrão geral dos bovinos, com risco menor de sinusite pós-descorna por chifres menores.
  • Suínos: segmentação pulmonar acentuada favorece infecções lobares localizadas.
  • Cães: músculo traqueal externo impacta abordagem em traqueostomias/traqueotomias e cirurgias cervicais.
  • Gatos: mucosa laríngea delicada com risco aumentado de edema laríngeo em contenção e anestesia.

Perguntas frequentes sobre a anatomia do sistema respiratório em animais domésticos

Qual espécie doméstica apresenta duas coanas?

Equinos apresentam duas coanas separadas até a nasofaringe; nas demais espécies a abertura é única.

Quais nervos cranianos têm relação direta com a bolsa gutural?

IX (glossofaríngeo), X (vago), XI (acessório) e XII (hipoglosso); além de íntima relação com carótidas.

Em que região do sistema respiratório ocorrem as trocas gasosas?

Nos alvéolos pulmonares, na interface capilar–alvéolo (barreira hemato-aérea).

Qual estrutura conecta a cavidade oral ao órgão vômeronasal?

O ducto (canal) incisivo, que se abre na papila incisiva (ausente em equinos).

Qual órgão sensorial está associado à percepção de feromônios?

O órgão vômeronasal (de Jacobson), com papel na comunicação química e comportamento reprodutivo.

Quais espécies domésticas possuem brônquio traqueal?

Ruminantes e suínos; ele ventila o lobo cranial direito.

Em qual espécie doméstica o músculo traqueal é externo?

No cão; nas demais domésticas a posição é interna (intratraqueal).

Qual meato nasal é a principal via do ar inspirado até a nasofaringe?

O meato ventral.

Qual meato nasal estabelece comunicação com os seios paranasais?

O meato médio.

Quais conchas nasais têm função olfatória predominante?

As conchas etmoidais.

Qual estrutura da traqueia desencadeia reflexo de tosse quando estimulada?

A carina traqueal.

Qual espécie não apresenta lobo médio no pulmão direito?

Equinos.

Quais são os seios paranasais presentes nos equinos?

Frontal; maxilar rostral e caudal; conchal dorsal; conchal ventral; esfenopalatino (6 por lado).

Qual a faixa de frequência respiratória de suínos em repouso?

Entre 8 e 18 movimentos por minuto.

Em quais espécies a papila incisiva está ausente?

Nos equinos; nas demais domésticas a papila está presente.

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